ESCULTURAS

As esculturas surgiram com a ideia de mesclar a técnica da joalheria e o refugo da produção de joias, a diversos e inusitados tipos de metais recolhidos aleatoriamente pelas ruas e caçambas da cidade de São Paulo. Uniram-se a essa lista, vidro, mármore, madeira, enfim todo e qualquer material utilizado na composição artística das esculturas. A prioridade é sempre o material de descarte.

A inspiração para as composições surge da fusão entre a Alma da Matéria e a Alma Singular dotada de conceitos e simbologias comuns a todo o Universo Humano. O cerne da produção não é a reciclagem, mas a ressignificação do mundo material compondo-o estética e simbolicamente, através da Arte. A alquimia da transformação da arte surge quando adicionamos intenção e afeto ao mundo material disponível ao nosso redor.

A pesquisa de novos materiais é uma constante na produção das esculturas, embora a base técnica utilizada seja a da joalheria tradicional, somada a conceitos de metalurgia na conservação e manuseio de metais ferrosos. Cada novo material, seja a madeira, vidro, acrílico ou os demais, exige o estudo e o conhecimento concernente ao seu uso. Compondo-os lado a lado, o olhar estético e, sobretudo o conceitual e simbólico, constituem cada nova escultura juntamente com o ato de nomeá-las, ou seja, personifica-las enquanto objeto Uno e Original.

 

ESCULTURAS AFETIVAS PARA CLIENTES

As esculturas afetivas surgiram com ideia de materializar e construir esculturas para terceiros. O cliente fornece os objetos e materiais importantes e significativos de sua vida, sua família e após uma longa conversa onde são abordados os gostos, história dos objetos, relação afetiva com eles, intenção com a escultura, dentre outros, um projeto é apresentado e uma vez aprovado, a escultura é desenvolvida.

Compreender e mergulhar no desejo e na história do cliente e compô-lo estética e artisticamente é o ponto de partida desse grande desafio.

 

PARCERIAS

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ARTE SUSTENTÁVEL E RESSIGNIFICAÇÃO MATERIAL

22 de maio de 2020
Duração do vídeo: 0:54

Série | Pequenas Esculturas
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Série | Árvores
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No principio alguém criou o Homem.  Este, ao Criar fez-se a si e ao mundo.  Expoente do Conhecimento e do Bem e do Mal a árvore expressa simbolicamente em seu ciclo de crescimento o processo criativo. Solitária e individual, ainda que universal, a Arte interfere, instiga e traduz em linguagem estética, a realidade circundante.

Materializa-se em um tempo/espaço próprios (representados pelos objetos contidos no vidro), porém no momento em que a obra surge deixa de ser a somatória de suas potencialidades originais.

A semente encerra a possibilidade da árvore existir. As cores encerram, mas não compõe, a pintura. Surge então a Arte.

ÁLAMO foi confeccionada com cobre e latão, metais utilizados em ligas metálicas da joalheria. Foram usadas as mesmas técnicas de solda e a oxidação realizada em serragem e amoníaco.

Numa linguagem plástica e simbólica VIAGEM AO CENTRO DA TERRA fala do tempo e do desdobramento do mesmo na multiplicidade com que ele permeia a vida humana. Ligação entre o céu e a terra, a árvore expressa através da cadência de seu crescimento o incessante fluxo do universo.

“Deus disse: faça-se a luz! E a luz foi feita. E Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas.” 

Pensar e compreender nossas sombras remeteu-me ao desejo de ler sobre a luz. Esbarrei no conceito do tempo e na história dos primeiros relógios de sol. De sombra movente, na observação de que seu próprio corpo projetava algo diferente sobre a terra no decorrer do dia, o homem primitivo foi o precursor daquilo que, milhares de anos à frente, chamaríamos de relógio. Com a descoberta de que, não apenas seu corpo, mas os objetos ao entorno igualmente projetavam sombras, o homem criou o relógio de sol, onde o tempo era dimensionado pela posição e tamanho da sombra projetada pela luz na haste central.  Incorporado o tempo a sua vida, cultivou a terra, dominou a natureza, alimentou-se, guiou-se e conscientizou-se de sua finitude. Gravadas sobre os relógios de sol as epígrafes babilônicas falavam justamente sobre a vida e sobre sua fugaz passagem sobre a terra. Luz e sombra… Tempo e luz.  Tempo e espera.  Tempo e transformação.  Tempo e dor.  Tempo e cura.  Tempo e despertar.

Série | Sacra
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Criar EVA requereu tempo e persistência. Tempo de recompor-me em minha força como mulher e no silêncio contumaz alimentar-me com o fruto da Vida. Composta quase que integralmente com o refugo do trabalho de joalheria, ela nasceu em meio a ideia de retratar de forma plástica, estética e impactante, a força da energia feminina.

Como um totem, EVA simboliza de forma sagrada e protetora o poder e o princípio da Criação possível e existente em todo ser humano.

“Tudo está em levar a termo e, depois, dar à luz. Deixar amadurecer inteiramente, no âmago de si, nas trevas do indizível e do inconsciente, do inacessível a seu próprio intelecto, cada impressão e cada germe de sentimento, e guardar com profunda humildade e paciência a hora do parto de uma nova claridade: só isto é viver artisticamente na compreensão e na criação.”   Rainer Maria Rilke, Cartas a um Jovem Poeta

Do sertão do nordeste, suja e disforme, de suas mãos recebi com orgulho a lata velha que aos olhos do mundo passaria desapercebida, mas aos seus vislumbrava-se linda e valorosa.

Incólume ao tempo e ao sofrimento que tanto castigava aquelas terras e seus homens taciturnos, Representa-lo em sua essência era o que de mais sublime me restava.

ELE DE LATA, afora qualquer crença religiosa que o remeta, fala simbolicamente de entrega, de luta, de sobrevivência e devoção a Vida.

 

Série | Comemorativa
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É a história do homem inserido contextualmente na cidade a qual presenteia. Como obra de arte apresentada em cores, formas e movimentos, poderia igualmente ter sido escrita ao mesclar simbolicamente conceitos do Gênesis e da vida moderna a um dos locais símbolos do coração de São Paulo, Avenida Paulista e Masp.

Da origem da vida com o mistério que a subjaz, os objetos na parte inferior acompanham cada uma das cinco etapas centrais e superiores da escultura. Como a Avenida Paulista que encerra em seus subterrâneos vida abundante que sustenta e organiza a possibilidade da vida que se move continuamente aos olhos de quem a percorre.

Símbolo e mistério, passamos pela criação arquetípica do mundo tendo o homem a chave da vida para viver e percorrer seu universo em busca de suas próprias respostas. Da origem do bem e do mal, a Árvore da Vida projeta suas raízes mundo afora e esconde todos os segredos do mundo. Ao alto, a pomba resiste ao dilúvio da Arca de Noé e voa livre em meio ao céu inebriante anunciando o fim do grande dilúvio.

Do homem central, totalizado e imortalizado em sua própria e pretensa supremacia, o círculo inferior o insere na totalidade da Vida. Esta sim, suprema em sua perfeição e plenitude simboliza o eterno movimento, a expansão e o curso incessante do tempo.

Alçado a vida terrena, concreta e real, o homem sai de seu ideal e debate-se em meio a implacável realidade que o conforma em busca de sua própria verdade. Seu coração, subterrâneo, porém pulsante, por vezes figura apenas coadjuvante na eletrizante vida que transcorre incessantemente ao alto.

Sob o olhar dos grandes arranha-céus, a vida cotidiana e por vezes frívola, confunde-se na busca de sua razão e finalmente insere o homem na eterna cadência de sua existência.

Ao coração do Brasil, levado pelo mar de lama que assolou e vitimou centenas de brasileiros, BRUMADINHO estampa a dor da perda de cada vida humana nessa grande tragédia.

Empurrados pelo mar de lama, sonhos e sorrisos se calaram deixando premente o vazio de uma nação onde Ordem e Progresso submergiram em meio ao caos. Da bandeira, símbolo do que pretensamente nos alçaria em nossos desejos e aspirações, apenas o vermelho estampa agora nosso luto e nossa dor diante da supremacia do poder econômico sobre a vida.

Composta com diferentes metais e tendo à base uma robusta haste de ferro oxidada pelo tempo, BRUMADINHO transforma em Arte e Cor a dor de milhares de brasileiros vitimados pelo rompimento da barragem.

Série | D’Água
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Vertendo as águas da vida dos céus, Zeus na mitologia grega tinha o poder dos relâmpagos e trovões. Com sua mão direita lançava chuva sobre a Terra ora com a força destruidora, ora com a benevolência germinadora da Vida e das plantações. Conta-se que, apaixonado pelo lindo aguadeiro Ganimedes, transformou-se em uma águia gigante e raptou-o da Terra levando-o ao Olimpo para se tornar o aguadeiro favorito de todos os deuses.

Aguadeiro foi criado em meio ao grande desafio da humanidade quando o mundo se debate com a ira dos Deuses que impingiram a nós o confinamento e simbolicamente o represar e o reinventar da vida. Representando a água e o germinar da Nova Vida e da Era de Aquário, o Aguadeiro contemporâneo em forma de torneira traz-nos a cada dia a esperança do recomeço e a certeza de que somente juntos e abundantes em nossas parcerias poderemos superar a força destruidora e recicla-la com a benevolência da Vida.

Aguadeiro sintetiza de forma simples e poética que a Arte prescinde da razão quando a intenção e a emoção transbordam em cores, formas e movimento.

O fluxo incessante da vida engendra-nos invariavelmente na universalidade de nossa existência. Este é o verdadeiro coletivo premente no resgate de nossa humanidade, quaisquer que sejam nossos caminhos. Convergentes ou não. 

                                             “Nenhuma cadeia é mais forte do que o seu elo mais fraco.”  Arthur Conan Doyle

 

Série | Lato
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Os gregos antigos influenciados por Pitágoras reconheciam que “na natureza tudo é número” e consideravam 4 formas básicas de estuda-los; pela Aritmética, Geometria, Música e Astronomia e o conjunto dessas disciplinas foi chamado de Quadrivium que, juntamente com as disciplinas do Trivium, que são: a Gramática, Dialética e Retórica compõem as Sete Artes Liberais e eram a base da educação carolíngia.

 A Aritmética pode ser definida como o estudo ou teoria dos números; a  Geometria  como o estudo do número no espaço; a Harmonia (ou Música)  o número no tempo e a quarta, a Astronomia/Astrologia, o número no tempo e no espaço.

QUADRIVIUM é uma representação plástica e sequencial desses conceitos. Ao fundo, refletido no espelho do Céu, a imagem de quem o fita compõe o eminente contemplador da Criação. O próprio Homem.

“Não te dei face, nem lugar que te seja próprio, nem dom algum que te faça particular, ó Adão, a fim de que tua face, teu lugar e teus dons, tu os desveles, conquistes e possuas por ti mesmo. A natureza encerra outras espécies em leis por mim estabelecidas. Mas tu, a que nenhum confim delimita, por teu próprio arbítrio, nas mãos do qual te coloquei, tu te defines a ti mesmo. Pus-te no mundo a fim de que possas melhor contemplar o que contém o mundo. Não te fiz celeste nem terrestre, mortal ou imortal, a fim de que tu mesmo, livremente, à maneira de um bom pintor ou de um hábil escultor, descubras tua própria forma”…  Oratio de Hominis Dignitate, escrita em 1486, Pico della Mirandola

PRIMAZ representa o Homem genuíno em busca de sua essência e seu lugar no mundo. Composto por materiais de descarte de joalheria e de reciclagem, à frente do grande Homem imponente e desbravador, reina o bastão do poder e da energia masculina que evoca ação e execução. Posteriormente representada pela cuba, a porção feminina do Homem o insere no universo da receptividade e do acolhimento compondo em todo ser humano, homem ou mulher, as vertentes de alma humana. A escultura evoca movimento e leveza.

Ao olhar atento, refletido no pequeno espelho na face do grande Homem, a chave da vida está sempre a desafiar nosso caminhar.

Prenunciando a Vida Plena, representada pelo círculo vazio, símbolo da totalidade e da perfeição, a vida terrena constitui-se materialmente no primeiro plano da Obra. Caminho para a Vida Plena, a vida terrena possui vertentes e diferentes facetas através das quais desenvolvemo-nos como seres humanos. Permeando nossos caminhos, desafios e dificuldades os compõem e estão representados pelos cacos de vidro e pelo arame farpado. Símbolo da transformação e da libertação, a borboleta faz referência à cadência de nosso processo evolutivo durante a vida.

Composto quase que integralmente com sucatas a obra Prenúncio representa o fluxo da Vida, o cerne de meu trabalho, meu encontro com a Arte e o caminho através do qual me realizo como ser humano. O que nos observa, disposto ao lado esquerdo e frontal da obra, a Razão do Existir contempla-nos singelamente em seu pedestal magnânimo.

Arrancado em um duelo, Hórus teve seu olho esquerdo substituído por um amuleto que não lhe permitia a plena visão. Por isso este olho passou a ser representado pela Lua, simbolizando a energia feminina dos sentimentos, da intuição e da capacidade de “enxergar” sem se ver, o lado espiritual da vida.

Representando a informação concreta, numérica e simbolizado pelo sol, o olho direito passou a integrar o universo masculino compondo, juntamente com o olho esquerdo, o equilíbrio e a totalidade da vida.

Hórus foi composta intuitivamente afim de representar minha visão acerca do mundo e deste momento. Inicialmente com o nome “Como vejo o Mundo”, incorporei elementos que representassem o tempo, o movimento cíclico, contínuo e o alimento “espiritual” vindo do céu representado pelos grãos de arroz presentes dentro da mangueira. Coincidentemente em minhas mãos surgiram o mito de Hórus e imediatamente o paralelo compôs-se diante de meus olhos.

Lançarmo-nos à sorte, guiados pelos sentidos, pelos sons vibrantes, pelos movimentos, pelo não dito, pelo concreto, é descobrirmos e tangermos a totalidade da Vida.

 

Essa obra auto expressiva retrata artisticamente conflitos emocionais inerentes aos seres humanos. A expressão “entre a cruz e a espada”, na língua portuguesa faz alusão a dilemas pessoais com conteúdos antagônicos. Estes, representados de forma simbólica na face exposta no quadrante superior evocam diferentes vertentes de nossa Alma.

Lidar com dicotomias e conflitos, igualmente representados pelo símbolo do Yin/Yang abaixo da face, nos conduz ao crescimento, mesmo que não linear, representado pela espiral na parte superior esquerda.

A espiral é a essência do mistério da vida e os seres humanos se encontram em determinados pontos de suas caminhadas. Retornamos às origens e o ponto de partida também é o ponto de chegada, instigando-nos ao reencontro e à renovação. Opostos se complementam se integrados e compreendidos. Movimentar-se, fluir, chegar e partir são partes da vida.

Para algum ponto de nossa existência convergem nossos esforços alimentando a vida num eterno pulsar. Ainda que inferior, o ralo representa o ponto de convergência dos opostos. Para ele, em qualquer sentido, flui impreterivelmente a nossa existência.

De suas mãos, apenas a memória de um tempo em que elas, alvorecidas e ainda ágeis, vasculhavam a vida com vigor incontestável. Aos 90 anos, meu Pai dedicava -se agora a árdua tarefa de ceifar os resquícios que um dia emolduraram sua bela natureza.

Dele recebi os materiais utilizados nessa escultura. O que aos seus olhos designavam-se refugos, em minhas mãos edificaram meu sentimento e pesar de vê-lo distante.

Na resiliência de seus cabelos brancos, pulsava em vermelho carmim, a vida que nos brindava com um amor espontâneo. Um amor plantado. Edificado.  Não calculado. Um amor que a cada amanhecer balizava-nos em nossas buscas e desafios.

Arcar-me a meu Pai, alentava esse grande Amor.

A obra de arte evoca sentimentos por parte do observador e por ser mais sentida do que conceitualizada, suas imagens transmitem percepções ricas em sensibilidade que dispensam a razão.

Fundir-se ao mundo da matéria, transformá-lo e fazer emergir conteúdos e conceitos humanos é o cerne de meu trabalho. A linguagem estética é uma vertente universal e atemporal que ultrapassa as barreiras materiais, unindo os homens naquilo que os caracteriza e conforma enquanto seres humanos.

A escultura CONEXÕES fala de pessoas e de caminhos a serem percorridos; de buscas. Fala de solidão, parcerias e do contínuo movimento do pulsar da vida.  Terrena ou celeste, ela invariavelmente nos une e nos conduz por distintos caminhos na busca de nossas realizações. Coexistimos em cores e formas variáveis e preenchemo-nos com diferentes materiais, representados pelos objetos inseridos nas mangueiras.

De nossa procedência, pouco sabemos, mas o fluxo incessante da vida – de início, fim e recomeço – constitui o círculo e unicidade de nossa existência.

Série | Enquadros
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Da criação do homem e do sopro da vida em suas narinas à imagem do vento balançando as coloridas bandeiras de oração budistas, espalhando suas bênçãos aos quatro cantos do mundo, VENTILART fala da pluralidade da Arte nas diferentes e infindáveis vertentes em que se apresenta.

Elaborado em uma grade de ferro de ventilador encontrada em uma caçamba da cidade e preenchida com diferentes e infindáveis materiais, VENTILART espalha cor e movimento aos quatro cantos do mundo.

O vento conduz. A brisa afaga. A ventania destrói. O segredo talvez esteja no Equilíbrio dessa força.

CAMINHAR

Caminhar a deixava feliz. Seus pés, dantes sublimes e certeiros, envoltos em ternura, teimavam agora em lembrar-lhe que as manhãs, embora eternas, padeciam a cada anoitecer. Naquele momento de sua vida, a inconstância fazia com que suas pegadas na areia se fundissem em um grande emaranhado.  De longe era possível identificar quantas tentativas havia feito. Por onde estivera. Quanto esforço despendera.  Quanta solidão havia em seu caminho. Quantos se aproximaram.

Efemeridade era algo que lhe parecia eterno. A intensidade de sua busca estampava-se na profundidade de suas pegadas. A vida descortinava-se como um rompante de sentimentos. A razão, divina protetora, circundava seu caminho. Acolhida, ela poderia experimentar livremente a amplitude de suas buscas. Mas à própria sorte estaria se, ao cair da tarde, sob a tímida luz da lua, os olhos que sempre estiveram atentos, não mais a encontrassem. 

Estar a lado dela fazia emergir lembranças de um tempo distante. Lembranças que, acalentadas e compreendidas, coloriam o olhar a ela dirigido. Incompreendido e por vezes temido, desaguava na confluência de seus sentidos e perdia-se na imensidão do mar azul.

O amor por ela fazia com que, em todos os dias de chuva, houvesse um arco íris no céu anunciando que em sua vida, em todas as vidas, existia uma Verdade. E que sua natureza, estampada em seus olhos, em seu semblante, em seu modo de caminhar, em sua pele, em seus cabelos, estava lançada para quem quisesse alcançá-la. Ela ainda não compreendia, e nem poderia, que a reciprocidade e a devoção poderiam ser um caminho de amor. Do amor! E que as pedras e os nós, não apenas nos faziam tropeçar, mas igualmente nos alçavam ao céu. Ao observador desatendo, era difícil encontrar nele seu arco íris. 

Em sua fé pueril as histórias de amor eram sempre felizes e os mocinhos venciam os bandidos. No calor de um abraço sua vida atingia a plenitude. O começo e o fim nele se abrigavam. O meio, duro caminho da procura, dissolvia-se no compasso de seu coração. 

Ama-la era igualmente não aceita-la em sua contradição, em sua condição. Era mostrar-lhe que suas pegadas na areia poderiam, caso desejasse, serem apagadas pelas águas e pelo vento numa linda tarde de verão. Que poderiam tornar-se apenas uma lembrança quando, ao raiar de um dia, o horizonte a convidasse a partir.  E já distante, ela pudesse se virar para trás imbuída de toda sua força, de toda sua beleza e acenar com vigor para aqueles que haviam estado sempre ao seu lado. Por quem seus olhos, antes da partida, marejaram por não terem encontrado.  A quem seu corpo sutilmente clamara afeto. A quem sua alma confiara a vida. E então seguiria em frente e não olharia mais para trás a tempo de ver os braços que permaneciam abertos… Para sempre… A espera de seu retorno.

® Claudia Seber | Todos os direitos reservados | 2020